sábado, agosto 27, 2005

Milágrimas


em caso de dor ponha gelo
mude o corte de cabelo
mude como modelo
vá ao cinema
dê um sorriso
ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo

se amargo foi já ter sido
troque já esse vestido
troque o padrão do tecido
saia do sério
deixe os critérios
siga todos os sentidos
faça fazer sentido
a cada mil lágrimas sai um milagre

caso de tristeza vire a mesa
coma só a sobremesa
coma somente a cereja
jogue para cima faça cena
cante as rimas de um poema
sofra penas viva apenas
sendo só fissura ou loucura
quem sabe casando cura
ninguém sabe o que procura
faça uma novena
reze um terço caia fora do contexto
invente seu endereço
a cada mil lágrimas sai um milagre

mas se apesar de banal chorar for inevitável
sinta o gosto do sal
gota a gota,
uma a uma duas três dez cem mil lágrimas
sinta o milagre
a cada mil lágrimas sai um milagre

(Alice Ruiz e Itamar Assumpção)

terça-feira, agosto 23, 2005

Caminho das índias

Minha mãe de leite
Sempre me ensinou
Meu tempero é outro
Eu sou do azeite
Pimenta de cheiro
Pitadas de amor
Sal da terra é salva, salva, salva, Salvador
Ai meu coração, preciso de amparo
Busco em Santo Amaro Purificação
Caminho das Índias
Caminho do mar
O vento e a vela, cravo e canela
O ouro do rei na mesma panela
Deixa cozinhar que eu fico contente
Canta minha gente
Rapaz se oriente
Eu sou a semente que veio de lá

(Morais Moreira)

quinta-feira, agosto 11, 2005

Eu sambo mesmo

Eu sambo mesmo
(Janet de Almeida)


Há quem sambe muito bem
Há quem sambe por gostar
Há quem sambe por ver os outros sambar
Mas eu não sambo para copiar ninguém
Eu sambo mesmo com vontade de sambar
Porque no samba eu sinto o corpo remexer
E é só no samba que eu sinto prazer

Há quem não goste de samba, não dá valor, não sabe compreender
O samba quente, harmonioso e buliçoso
Mexe com a gente e dá vontade de viver
A minoria diz que não gosta mas gosta
E sofre muito quando vê alguém sambar
Faz força, se domina, finge não estar
Tomadinho pelo samba, louco pra sambar

(Janet de Almeida)

terça-feira, agosto 09, 2005

O Meu Posto

Sinto muita saudade
Essa é a verdade
Não te vejo a metade
Do quanto quero lhe ver

Se eu te vejo a metade
Mais eu sinto saudade
Essa é a verdade
Quanto quero lhe ver

Quando a gente se fala
Quando perco a fala
Eu te ouço e não falo
O que eu quero dizer

Estou te amando de novo
E o quarto lugar
Pro meu posto
Já me deixou feliz

Hoje em outra cidade
Amanhã na cidade
Eu te ligo de tarde
Você termina de ler

Você me liga de tarde
Já pra outra cidade
Hoje eu durmo mais tarde
Você não para de ler

Pois ficou resfriada
Pos seus pés em sandálias
De manhã sem a praia
Pôde compreender

Que está me amando de novo
E encontra o lugar
No seu gosto
e se sente feliz

E o medo, o peso, o pesadelo, o segredo
e o sossego que o desejo por um beijo
pôs pra fora
E o desejo durante tanto tempo
só desejo mais desejo
deseja que o desejo seja feito agora

Dia 1º de Maio
Não sei porque me distraio
Passou alguém perfumado
Quase que eu posso lhe ver

Ribeirão, madrugada
Todo mundo lá em casa
O mundo é muito mais água
Do que eu posso beber

Antes só suco de lima
Hoje também o de pinha
Quanto você imagina
Que ele possa querer
Ficar amando de novo
Nesse outro lugar
O seu posto
Diferente e feliz ?

E o medo, o peso, o pesadelo, o segredo
e o sossego que o desejo por um beijo
pôs pra fora
E o desejo durante tanto tempo
só desejo mais desejo
deseja que o desejo seja feito agora

Bom jantar, meus amigos
Amanhã é domingo
Hoje eu fico sozinho
Pra poder lhe escrever

Que estou amando e com sono
Acho que vou me deitar
No meu posto
Eu me sinto mais feliz

(Nando Reis)