terça-feira, fevereiro 24, 2015

Casa



Minha casa é simples
Mas é forte todavia
Chove todo dia
Uma calma solidão

Vento que arranca
Dos varais uma lembrança
Tudo que me alcança
Era sonho, agora, não

Da janela, vejo
Luzes da cidade, o peso
Todo o desejo
De um lugar nesse clarão

Como eles correm
Tão certinhos quanto à sorte
Rima com a morte
Mando um grito, mando um sinal

Ninguém nunca vê a minha casa
Ninguém nunca entra

Minha casa é simples
Mas é minha toda vida
Chove todo dia - uma brava solidez

Onda que me lança
Nunca quebra, só avança
Faz da dor bonança
Soa o sino - agora, sim

Sei que já é tarde
Hoje desço pra cidade - algo que se parte
Dou à sorte o meu amor

Em cima de um morro nem tão alto, nem tão baixo
Será que eu encaixo?
Era sonho
Agora, não

A pele que há em mim



Quando o dia entardeceu
E o teu corpo tocou
Num recanto do meu
Uma dança acordou
E o sol apareceu
De gigante ficou
Num instante apagou
O sereno do céu
E a calma a aguardar lugar em mim
O desejo a contar segundo o fim.
Foi num ar que te deu
E o teu canto mudou
E o teu corpo no meu
Uma trança arrancou
E o sangue arrefeceu
E o meu pé aterrou
Minha voz sussurrou
O meu sonho morreu
Dá-me o mar, o meu rio, minha calçada.
Dá-me o quarto vazio da minha casa
Vou deixar-te no fio da tua fala.
Sobre a pele que há em mim
Tu não sabes nada.
Quando o amor se acabou
E o meu corpo esqueceu
O caminho onde andou
Nos recantos do teu
E o luar se apagou
E a noite emudeceu
O frio fundo do céu
Foi descendo e ficou.
Mas a mágoa não mora mais em mim
Já passou, desgastei
Para lá do fim
É preciso partir
É o preço do amor
Para voltar a viver
Já nem sinto o sabor
A suor e pavor
Do teu colo a ferver
Do teu sangue de flor
Já não quero saber.
Dá-me o mar, o meu rio, a minha estrada.
O meu barco vazio na madrugada
Vou deixar-te no frio da tua fala.
Na vertigem da voz
Quando enfim se cala.

sábado, fevereiro 21, 2015

Prainha



Vontade de ir pra i, prainha
Vontade de ficar na minha
Onde o sol à tardinha se esconde
Onde a noite escura nem é
Onde o mar vem lavar o meu pé
Onde só não me sinto sozinha
Praia aô, biribando sô
Vou a sem bando ô
É assim que eu me sinto melhor
Praia aô, biribando sou
Vou sem bando ô
É assim que eu me sinto melhor
Vontade de ir pra i, prainha
Vontade de ficar na minha
Onde o sol à tardinha se esconde
Onde a noite escura nem é
Onde o mar vem lavar o meu pé
Onde só não me sinto sozinha
Praia aô, biribando sô
Vou a sem bando ô
É assim que eu me sinto melhor
Praia aô, biribando sou
Vou sem bando ô
É assim que eu me sinto melhor

Canção Pra Ninar Oxum



Chora não, oxum
De que chorar?
Sonha viu, oxum
Sem lágrima
Hoje eu não vou deixar
Ninguém sofrer
Não quero ver a minha oxum chorar
Colho os prantos sem deixar nenhum
Pra lhe acordar

Chuva no Mar



Coisas transformam-se em mim
É como chuva no mar
Se desmancha assim em
Ondas a me atravessar
Um corpo sopro no ar
Com um nome para chamar
É só alguém batizar
Nome para chamar de
Nuvem, vidraça, varal
Asa, desejo, quintal

O horizonte lá longe
Tudo o que o olho alcançar
E o que ninguém escutar
Te invade sem parar
Te transforma sem ninguém notar
Frases, vozes, cores
Ondas, frequências, sinais

O mundo é grande demais
Coisas transformam-se em mim
Por todo o mundo é assim

Isso nunca vai ter fim